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terça-feira, 22 de março de 2016

Para juiz da Ficha Limpa, solução seria cassação pelo TSE com nova eleição

Carlos Madeiro
Colaboração para o UOL, em Maceió


Márlon Reis diz que crise ajudou Brasil a eliminar práticas danosas à política

Um dos autores e porta-voz da Lei da Ficha Limpa, o juiz maranhense Márlon Reis acredita que a melhor solução para a atual crise política não seria o impeachment, mas, sim, novas eleições convocadas após uma eventual cassação de Dilma Rousseff e Michel Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). "Essa solução tem o mérito de dar aos cidadãos a palavra final, pois demanda a convocação de novas eleições."


Para ele, as revelações da operação Lava Jato não trouxeram revelações de práticas novas. "Todos os observadores da política brasileira sabiam de antemão dessa relação inadequada entre grandes empreiteiras e governos. Essas práticas marcavam a conduta de todas as empresas que mantém elevados contratos com poder público", diz.

Em entrevista ao UOL, Márlon diz ainda que a prática investigada na Petrobras se repete, em escalas diferentes, em Estados e municípios. "Há apenas uma diferença em relação ao quantitativo alcançado", comenta.

Leia os principais trechos da entrevista:



UOL - Nos últimos dias, muita gente tem se dito atônita com as revelações dos grampos e vazamentos de informações da operação Lava Jato. Mas esse tipo de negociata já era algo denunciado pelo senhor há anos. Há alguma prática nova, não conhecida, ou apenas a revelação do que já se sabia?



Márlon Reis - A operação Lava Jato revela uma série de condutas que constituem uma decorrência lógica do modelo de financiamento de campanhas que era adotado no Brasil. O sistema partir de três premissas: fontes empresariais de recursos, ausência de teto de arrecadação estabelecido em lei e falta de transparência na prestação de contas eleitorais. A mensagem transmitida por esse modelo era de que as campanhas deveriam ser encaradas como uma "corrida pelo ouro". Houve uma institucionalização do abuso do poder econômico. E lamentavelmente era a própria lei quem construía esse quadro de degradação política. Todos os observadores da política brasileira sabiam de antemão dessa relação inadequada entre grandes empreiteiras e governos. Essas práticas marcavam a conduta de todas as empresas que mantém elevados contratos com Poder Público. E invariavelmente comprometiam os mandatos. Antes mesmo da inclusão da Lava Jato publiquei o livro intitulado " O Nobre Deputado", onde descrevia relações idênticas ao que está sendo revelado. O livro foi construído com base em uma série de entrevistas que realizei com líderes políticos em diversas partes do país.

Essa prática se reproduz em outras esferas de poder?
Essas práticas acontecem desde as menores prefeituras e se reproduzem nos governos estaduais. Tudo fruto de um sistema anacrônico e que ainda não está de todo superado. O que mais chama atenção nos desvios ocorridos no âmbito da Petrobras é o montante dos valores envolvidos. Esses desvios se repetem em quase todos os estados e municípios, havendo apenas uma diferença em relação ao quantitativo alcançado.

O meio jurídico também anda dividido por conta das ações do juiz Sergio Moro. A transparência dada ao caso é boa ou há exageros?

Não opinaria sobre as decisões de outro magistrado por respeito à ética profissional. Por convicção filosófica, digo que a transparência é sempre preferível ao segredo.

Você entende existir motivo para impedimento da presidente? E de prática de crime eleitoral em 2014?
O impedimento é baseado constitucionalmente em temas políticos. Ele reclama a existência de fundamentos para a abertura de um processo de natureza ético-política. Depois disso, ocorre uma medição de forças baseada em critérios estritamente partidários. O impeachment tem o demérito de trasladar ao mais alto posto da República alguém que não conta com a legitimidade do voto. Sem entrar no mérito dos desvios debatidos no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, é preciso democraticamente reconhecer que o tribunal tem o papel constitucional e a legitimidade adequada para descontinuar mandatos eventualmente conquistados em um quadro de quebra da legalidade. Essa solução tem o mérito de dar aos cidadãos a palavra final, pois demanda a convocação de novas eleições.

Que lições você espera que o país tenha depois dessa crise? Mudaremos ou voltaremos a eleger fichas-suja normalmente, como sempre fizemos?

O Brasil está melhorando. Essa crise nos ajudou a eliminar o drama das doações empresariais. Finalmente conseguimos bani-las do nosso modelo eleitoral. Também teremos pela primeira vez eleições com um teto de gastos. Penso que os valores deveriam ser muito menores, mas não posso deixar de reconhecer o avanço. Além disso, teremos relatórios financeiros divulgados pelos candidatos durante toda a campanha. Seremos capazes de saber o quanto dizem haver arrecadado e comparar essa informação com o volume de campanha. Além disso, temos a Lei da Ficha Limpa, que ajudará a eliminar candidaturas de pessoas gravemente comprometidas pela mácula da corrupção. As crises passam. As instituições ficam. Estamos caminhando. 



Fux nega pedido para anular decisão de Gilmar Mendes sobre Lula.

Brasília - O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, negou na madrugada desta terça-feira, 22, o pedido do governo para anular a decisão do ministro Gilmar Mendes, que suspendeu a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil. Fux decidiu extinguir o processo sem sequer analisar o mérito do pedido feito pela Advocacia-Geral da União, porque, segundo ele, a ação ia contra a jurisprudência criada pela Corte. "O Supremo Tribunal Federal, de há muito, assentou ser inadmissível a impetração de mandado de segurança contra atos decisórios de índole jurisdicional, sejam eles proferidos por seus ministros, monocraticamente, ou por seus órgãos colegiados", anotou o ministro.

O mandado de segurança foi protocolado ontem pela AGU diante da perspectiva de que o recurso sobre a decisão de Gilmar Mendes e as ações sobre o caso que estão com o ministro Teori Zavascki só irão ser julgados pelo plenário a partir da próxima semana, por conta do feriado da Páscoa no Judiciário.

Na peça, a AGU alegava que a decisão de Gilmar Mendes de anular a nomeação de Lula para a Casa Civil foi "absolutamente peculiar e ilegal".

O órgão afirmava que o ministro deveria ter se declarado impedido de julgar a situação de Lula porque já havia se manifestado sobre o caso publicamente e porque tem ligação com a advogada Marilda de Paula Silveira, que assinou o mandado de segurança apresentado pelo PPS. O pedido do partido, juntamente com uma ação do PSDB, culminou na liminar de Gilmar que suspendeu a posse de Lula na sexta-feira passada.

A AGU também argumentava que era prerrogativa da presidente escolher os seus ministros e que Lula poderia assumir o cargo porque está sendo apenas investigado e ainda não foi condenado. "Notadamente, em período de notória crise política e turbulência institucional, não se pode manietar a presidenta da República no seu típico espaço de discricionariedade na direção política", diz na peça.
Em sua decisão, Gilmar alegou que Lula havia aceitado assumir a Casa Civil para ganhar foro privilegiado.

O Estado de S. Paulo.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Advogado de Lula acredita em habeas corpus do STF antes da Páscoa

De São Paulo
  • Alan Marques-17.mar.2016/Folhapress
    Lula e Dilma durante cerimônia no Palácio do Planalto no último 17 de março Lula e Dilma durante cerimônia no Palácio do Planalto no último 17 de março
O advogado Cristiano Martins Zanin, que faz a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou em entrevista à rádio Estadão nesta segunda-feira (21), que apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) estar esta semana em recesso de Páscoa, espera uma decisão sobre o habeas corpus impetrado na noite de domingo (20) contra a decisão do ministro Gilmar Mendes.

A decisão de Mendes, além de suspender o ato de nomeação de Lula para a Casa Civil, determinou o retorno das ações e dos inquéritos em que o ex-presidente é investigado no âmbito da Lava Jato para o juiz Sérgio Moro.

"Sabemos que a corte está sem trabalho essa semana, mas acredito que pode haver algum pronunciamento antes da próxima sessão (prevista para o dia 30), mesmo que seja monocrática, de um ministro", afirmou.

Em entrevista concedida na manhã desta segunda à Jovem Pan, o ministro Gilmar Mendes disse que, em tese, não há impedimento legal para um eventual pedido de prisão de Lula, até que o STF dê seu parecer sobre a nomeação do petista para a Casa Civil, pois hoje ela está suspensa e ele não conta com o chamado foro privilegiado. Indagado sobre essa hipótese, Cristiano Zanin disse que isso é uma "arbitrariedade".

"Não vejo a menor possibilidade dentro do ambiente de legalidade (de uma eventual prisão de Lula) e é preciso lembrar que Lula sequer é réu, não há ação penal e nem ação recebida por um juiz (que o torne réu)", disse o advogado do ex-presidente da República à rádio Estadão. E continuou: "Só uma arbitrariedade poderia levar a um cenário de eventual prisão de Lula, pois a análise dos atuais fatos indica que não há qualquer medida extrema que envolva Lula, por isso só uma arbitrariedade e, se por acaso houver, tem de ser coibida pelos meios legais."

Cristiano Zanin disse também que a decisão sobre a competência das investigações sobre Lula cabe ao ministro Teori Zavascki decidir e não a Gilmar Mendes, que em sua decisão remeteu as ações e os inquéritos de volta para Moro. "O destinatário desses processos só pode ser Teori Zavascki, que é o relator da Lava Jato nesta corte, e não o ministro Gilmar Mendes, num habeas corpus que apenas questionava a nomeação (de Lula)."

O advogado de Lula criticou ainda a divulgação dos áudios das interceptações telefônicas, destacando que houve divulgação de conversas sem a devida autorização judicial, numa referência ao diálogo entre Lula e a presidente Dilma Rousseff ter sido feito após o juiz Sérgio Moro determinar a suspensão dessas gravações. Segundo ele, além de ser ilegal, ela deveria ter sido destruída ou remetida ao STF por envolver uma autoridade com prerrogativa de foro, que é a presidente Dilma Rousseff.

Fachin se declara 'suspeito' para julgar pedido da defesa de Lula

Ministro se considera 'suspeito' quando pode ter imparcialidade questionada.
Novo sorteio definirá qual ministro julgará o pedido no Supremo.

Renan Ramalho
Do G1, em Brasília

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), se declarou "suspeito" e repassou um pedido da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros seis advogados para suspender a decisão do ministro Gilmar Mendes que barrou a nomeação do petista para o cargo de ministro da Casa Civil. Nesta segunda, mais cedo, Fachin foi sorteado para relatar o habeas corpus protocolado no fim de semana no Supremo.

Um ministro se declara “suspeito” quando, por alguma questão subjetiva, considera que pode ter a imparcialidade questionada para decidir sobre o caso. No caso do pedido da defesa de Lula, Fachin afirmou na decisão ser amigo íntimo de "um dos ilustres patronos subscritores da medida".  O ministro é padrinho da filha de um dos advogados que assina a peça, mas não informou qual deles.

Além dos advogados de defesa de Lula, também assinam o documento os juristas Celso Antônio Bandeira de Mello, Weida Zancaner, Fabio Konder Comparato, Pedro Serrano, Rafael Valim e Juarez Cirino dos Santos.

"Declaro-me suspeito com base no art. 145, I, segunda parte, do Código de Processo Civil [CPP], c.c. o art. 3º do Código de Processo Penal, em relação a um dos ilustres patronos subscritores da medida", afirmou Fachin na decisão. O inciso I do artigo 145 do CPP afirma que há suspeição do juiz caso ele seja "amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados".

Ao se declarar suspeito para julgar, Fachin repassou o caso para o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que deverá agora encaminhar a ação, por sorteio, para outro ministro ainda nesta segunda.

Na última sexta-feira (18), Gilmar Mendes suspendeu a posse de Lula sob o argumento de que o ex-presidente foi nomeado ministro para ter foro privilegiado garantido e, assim, tirar as investigações sobre ele das mãos do juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná. Moro é o responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância.

Com a posse no ministério, Lula seria investigado exclusivamente pelo STF. Na mesma decisão, Gilmar Mendes determinou que a investigação do ex-presidente seja mantida com a Justiça Federal do Paraná.


Argumentos
O argumento da defesa de Lula e dos juristas que subscreveram o habeas corpus é que Gilmar Mendes impôs “constrangimento” ao ex-presidente porque foi além do que pediram as ações judiciais, que queriam suspender a nomeação, ao determinar o retorno do processo para Moro.


No habeas corpus, a defesa pede expressamente a anulação do trecho da decisão de Gilmar Mendes que devolveu o processo ao juiz federal paranaense. O argumento da ação da defesa e de juristas deste domingo é que Gilmar Mendes impôs “constrangimento” a Lula porque foi além do que pediram as ações, que queriam suspender a nomeação, ao determinar o retorno do processo para o juiz do Paraná Sérgio Moro.


No habeas corpus, a defesa pede expressamente a anulação do trecho da decisão de Gilmar Mendes que devolveu o processo a Moro.

Pedido anterior da defesa

No sábado, os advogados de defesa de Lula já haviam enviado ao ministro do Supremo Teori Zavascki pedido para que ele seja o responsável pela análise das ações que tramitam no tribunal sobre a posse do ex-presidente na Casa Civil. A defesa entende que o fato de Teori ser o relator da Operação Lava Jato no tribunal faz com que, "ao menos provisoriamente", ele seja o ministro responsável para analisar o caso.


Um terceiro pedido já feito pela defesa solicitou que o Supremo proíba o juiz do Paraná Sérgio Moro de investigar Lula e questionou a divulgação de conversas interceptadas de Lula e outras pessoas, entre elas a presidente Dilma Rousseff. A defesa também pede investigação para apurar se houve crime no grampo e na divulgação das conversas.

Advogado de Lula acredita em habeas corpus do STF antes da Páscoa

De São Paulo
  • Alan MarquesLula e Dilma durante cerimônia no Palácio do Planalto no último 17 de março
  • Lula e Dilma durante cerimônia no Palácio do Planalto no último 17 de março
O advogado Cristiano Martins Zanin, que faz a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou em entrevista à rádio Estadão nesta segunda-feira (21), que apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) estar esta semana em recesso de Páscoa, espera uma decisão sobre o habeas corpus impetrado na noite de domingo (20) contra a decisão do ministro Gilmar Mendes.

A decisão de Mendes, além de suspender o ato de nomeação de Lula para a Casa Civil, determinou o retorno das ações e dos inquéritos em que o ex-presidente é investigado no âmbito da Lava Jato para o juiz Sérgio Moro.

"Sabemos que a corte está sem trabalho essa semana, mas acredito que pode haver algum pronunciamento antes da próxima sessão (prevista para o dia 30), mesmo que seja monocrática, de um ministro", afirmou.

Em entrevista concedida na manhã desta segunda à Jovem Pan, o ministro Gilmar Mendes disse que, em tese, não há impedimento legal para um eventual pedido de prisão de Lula, até que o STF dê seu parecer sobre a nomeação do petista para a Casa Civil, pois hoje ela está suspensa e ele não conta com o chamado foro privilegiado. Indagado sobre essa hipótese, Cristiano Zanin disse que isso é uma "arbitrariedade".

"Não vejo a menor possibilidade dentro do ambiente de legalidade (de uma eventual prisão de Lula) e é preciso lembrar que Lula sequer é réu, não há ação penal e nem ação recebida por um juiz (que o torne réu)", disse o advogado do ex-presidente da República à rádio Estadão. E continuou: "Só uma arbitrariedade poderia levar a um cenário de eventual prisão de Lula, pois a análise dos atuais fatos indica que não há qualquer medida extrema que envolva Lula, por isso só uma arbitrariedade e, se por acaso houver, tem de ser coibida pelos meios legais."

Cristiano Zanin disse também que a decisão sobre a competência das investigações sobre Lula cabe ao ministro Teori Zavascki decidir e não a Gilmar Mendes, que em sua decisão remeteu as ações e os inquéritos de volta para Moro. "O destinatário desses processos só pode ser Teori Zavascki, que é o relator da Lava Jato nesta corte, e não o ministro Gilmar Mendes, num habeas corpus que apenas questionava a nomeação (de Lula)."

O advogado de Lula criticou ainda a divulgação dos áudios das interceptações telefônicas, destacando que houve divulgação de conversas sem a devida autorização judicial, numa referência ao diálogo entre Lula e a presidente Dilma Rousseff ter sido feito após o juiz Sérgio Moro determinar a suspensão dessas gravações. Segundo ele, além de ser ilegal, ela deveria ter sido destruída ou remetida ao STF por envolver uma autoridade com prerrogativa de foro, que é a presidente Dilma Rousseff.