Do UOL, em São Paulo e em Belo Horizonte

Garantir votos para o cargo de prefeito por meio da promessa de pagamento de R$ 100. Como espalhar boatos sobre um adversário político para prejudicar a campanha dele. Estas duas "lições" foram dadas pelo deputado federal Aelton Freitas (PR-MG) durante a campanha eleitoral municipal do ano passado a um grupo de políticos da cidade de Capetinga (a cerca de 400 km de Belo Horizonte). O vídeo que mostra o deputado dando estes conselhos foi exibido no último domingo (21) pelo programa Fantástico, da Rede Globo.

O encontro teria ocorrido em um restaurante de Capetinga em 12 de setembro de 2012. Participavam o então prefeito da cidade, Carlos Roberto Custódio (PTB), conhecido como Carlito, o candidato a prefeito Donizete do Escritório (DEM), e o candidato a vice, Adriano do Gás. Aparecem nas imagens também três mulheres, que seriam casadas com eles, e um homem que seria um assessor do deputado, de acordo com a reportagem.

Enquanto fala ao grupo, Freitas recomenda que o candidato imprima 200 cartões, aos quais ele chama de cartõezinhos, e os distribua a 20 pessoas de confiança. Cada uma dessas pessoas teria que distribuir dez cartões a eleitores, prometendo a cada um R$ 100 a serem pagos se o candidato fosse eleito. Nas imagens, o papel que o deputado usa como exemplo tem o tamanho de um cartão de visitas.

Em outro momento do vídeo, o deputado diz que era necessário reunir um grupo de pessoas que espalhasse pela cidade boatos sobre um dos adversários políticos de Donizete, o então candidato Daniel Bertholdi (PSDB), que foi eleito com 47,71% dos votos. "Três ou quatro pessoas que possa tá [sic] em boteco ou em ponto de rua soltando boato e fofoca que o Daniel tem [sic] que desmentir e perder tempo naquilo", diz Freitas no vídeo. O deputado orienta que a cúpula da campanha não se envolva nestes boatos, trabalhando como se não houvesse concorrentes. Donizete foi o segundo colocado nas eleições, com 33,24% dos votos.

Deputado diz que compra de votos foi tratada como brincadeira

A reportagem do UOL tenta contato com todos os políticos que aparecem no vídeo exibido pelo Fantástico, mas ainda não teve retorno de nenhum deles.

Em entrevista ao Fantástico, o deputado disse que o que é mostrado no vídeo foi dito em tom de brincadeira, pela qual ele teria se desculpado ao fim do encontro. "Fiz alguma brincadeira, porque eu sou muito de contar piada em reuniões, depois pedi desculpa no final da reunião pelo que eu tinha falado e pelas piadas de mau gosto".

Ele também alega que não sabia que a reunião estava sendo filmada. "Em reuniões fechadas, quando a gente faz com um grupo de companheiros, de repente a gente fala muita coisa que não deve, que não pode". O deputado também disse que nunca se utilizou de compra de votos para se eleger.

Sobre a difamação de adversários políticos, em um primeiro momento Freitas diz que a atitude é natural: "Isso é natural. É um jogo, campanha é um jogo". Logo após ele se corrige dizendo que a compra de votos não é natural.

Também em entrevista ao Fantástico, o ex-candidato Donizete do Escritório disse que não usou recursos de compra de votos e que estava confiante na vitória. "Não tinha nem motivo para isso", disse. Já Adriano do Gás disse que as conversas a respeito de compra de votos se referiam a outras cidades, e também negou que a campanha dele e de Donizete tenha usado deste mecanismo. "É uma prática ilusória, né? Você tá comprando aquilo que você não sabe", declarou.  

Caso está sendo investigado pela PGR

O Ministério Público de Minas Gerais confirma que o vídeo foi entregue por meio de uma denúncia anônima, mas não soube precisar quando isto foi feito. Em 3 de julho o material foi recebido pela Procuradoria Geral da República, cuja assessoria jurídica está analisando o caso, já que o deputado tem foro privilegiado. Conforme a análise que a PGR fizer, uma denúncia pode ser feita ao Supremo Tribunal Federal (STF).