Ainda não é possível antever a
intensidade das mobilizações de rua no futuro próximo. Mas uma coisa é
certa, o Brasil não será mais o mesmo. Em meio a perplexidades e temores
despertados, algumas conclusões preliminares são possíveis:
1) As
redes sociais vieram para ficar. No Brasil, ainda parecia distante da
realidade o protagonismo do Facebook ou do Twitter na vida social e
política.
2) Índices de popularidade e aprovação de governo são
provisórios e relativos. As manifestações mostraram que nem tudo vai
bem, nem tudo é céu de brigadeiro, ao contrário da propaganda
apologética e unilateral do governo.
3) Instituições e lideranças
são movidas pela intensidade da participação social. Todos se
movimentaram em resposta às ruas. Dilma tentou recuperar a iniciativa
política, vestindo o figurino de estadista, coisa que não fez em dois
anos e meio de governo, gerando vácuo de liderança e utopia. O Congresso
derrotou a PEC 37, caracterizou como crime hediondo a corrupção e
destinou os royalties para educação e saúde. O Supremo decretou a prisão
de um deputado federal.
Foto: AP
4)
A esmagadora maioria é contra o vandalismo, o banditismo e a violência
como arma política. É preciso tolerância zero contra a barbárie.
5)
A democracia representativa precisa ser recheada com alta dose de
participação popular. A sociedade contemporânea é fragmentada e
multifacetada. A democracia direta é impossível, a exclusivamente
representativa se esgotou e é insuficiente.
6) É preciso atualizar
a discussão sobre direitos e deveres entre cidadãos de uma mesma
comunidade. O direito de manifestação livre e pacífica é sagrado, mas
não é maior do que o direito de o cidadão ir livremente da casa para o
trabalho e vice-versa.
7) A democracia demanda segurança. As
forças policiais têm um papel essencial para assegurar a liberdade e a
ordem constitucional. Não vivemos mais uma ditadura. Não podemos
glamourizar vândalos e demonizar policiais.
8) Ninguém tem o
monopólio da verdade e das boas intenções. Houve um recado geral,
concentrado, é claro, no Governo Federal, mas que foi também para todos
os partidos, atores políticos e instituições.
9) Não bastam renda e
emprego. Qualidade de vida foi o centro das manifestações. Qualidade na
saúde, na educação, no transporte coletivo. Prioridade social efetiva
nos gastos públicos. Menos estádios e trens-balas, mais escolas,
mobilidade urbana e hospitais.
10) A demagogia e o populismo não
são o caminho. Não podemos jogar fora o senso de responsabilidade fiscal
e de equidade social nas políticas públicas e nas estratégias de
fixação de tarifas e subsídios, que duramente conquistamos.
São
conclusões provisórias. E é melhor aprender com o sambista: “Faça como o
velho marinheiro, que durante o nevoeiro, leva o barco devagar.”
Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG).
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