- Tomas Munita/The New York Times
Conversa, cargos, jogo duro, regulamento debaixo do braço e influenciar
a opinião pública. Assim poderiam ser definidas as cinco principais
estratégias que o governo vai tentar utilizar para impedir o avanço do
processo de impeachment que tramita contra a presidente Dilma Rousseff
(PT) na Câmara dos Deputados.
Apesar de a saída oficial do PMDB da base governista
ter exposto ainda mais o isolamento do PT na defesa do mandato da
presidente Dilma, deputados petistas ainda apostam que é possível barrar
o impeachment.
O PT tem 58 deputados federais e 11 senadores. É
a segunda maior força política do Congresso Nacional, mas, sozinho, não
tem condições de impedir o avanço da proposta na Câmara.
O "desembarque" do PMDB, anunciado na última terça-feira (29),
intensificou a ação dos parlamentares na execução de cinco estratégias
que o governo tenta pôr em prática para impedir o afastamento de Dilma.
1. Conversas
Depois de quase cinco anos sendo acusado de não manter um diálogo
estreito com os partidos da base, o governo aposta muitas de suas fichas
na conversa. O principal convocado para conduzir esse processo é o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a ser nomeado como ministro da Casa Civil,
mas cuja nomeação foi suspensa pela Justiça. Mesmo oficialmente fora do
governo, ele tem passado a semana em Brasília e vem mantendo conversas
com parlamentares e líderes partidários.
Na Câmara, horas após o
anúncio do rompimento do PMDB, líderes do PCdoB se reuniram com o líder
do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Ele é visto como uma das
últimas esperanças do Planalto de angariar votos do PMDB para barrar o
impeachment.
Além de Picciani, outros líderes e mesmo deputados
com menor expressão na Câmara estão sendo procurados. Segundo o deputado
Paulo Teixeira (PT-SP), o público-alvo dessas conversas são os
indecisos. "Estamos conversando com Deus e o mundo, mas nosso
público-alvo mesmo são os indecisos. Estamos tentando mostrar para eles
que esse processo todo não tem fundamento", afirmou.
O deputado
Luiz Sérgio (PT-RJ) diz que os líderes governistas, ao lado da Casa
Civil, estão fazendo um "mapeamento" dos indecisos e insatisfeitos. "Tem
gente fazendo esse monitoramento. Queremos, primeiro, saber quem foi
que debandou de verdade. Depois vamos conversar com eles com bastante
calma", disse Luiz Sérgio.
2. Cargos
Apesar de não
falarem abertamente sobre a distribuição de cargos para impedir o
impeachment, líderes do PT admitem que o vácuo da debandada do PMDB
poderá deixar nos quadros do governo é visto como uma oportunidade para
atrair novos "parceiros".
Estima-se que, apenas na administração federal direta (sem contar empresas estatais), a saída dos ministros do PMDB do governo abriria ao menos 600 cargos de confiança.
O chefe de gabinete da presidente Dilma, Jaques Wagner, disse na última terça-feira (29) que a saída do PMDB "abre espaço para um novo governo".
"Não se trata de fisiologismo, mas é como Jaques Wagner falou: a saída
do PMDB abre a oportunidade para formar um novo governo. E isso implica a
escolha de novos aliados", afirmou Teixeira.
3. Jogo duro
Em meio ao embate que se estabeleceu no Congresso Nacional, já foi
possível identificar nos últimos dias uma mudança no tom de alguns
discursos feitos por governistas. A estratégia dizer que, em vez de
trazer a desejada estabilidade política, o impeachment pode resultar em
ainda mais problemas para quem ficar no poder.
Na segunda-feira (28), o primeiro a dar sinais dessa inflexão foi o
senador Humberto Costa (PT-PE). Em um discurso na tribuna do Senado, ele mandou um recado ao vice-presidente Michel Temer (PMDB).
"Não pense que os que hoje saem organizados para pedir 'Fora, Dilma'
vão às ruas para dizer 'Fica, Temer', para defendê-lo. Não! Depois de
arrancarem, com um golpe constitucional, a presidenta da cadeira que ela
conquistou pelo voto popular, essa gente vai para casa porque estará
cumprida a sua vingança e porque não lhe tem apreço algum. E,
seguramente, Vossa Excelência será o próximo a cair", disse Costa.
O deputado Wadih Damous afirma que, se Dilma foi afastada, a tensão tenderá a ficar ainda maior.
"Quem acha que o Brasil vai ficar mais tranquilo após o impeachment se
engana. Não se brinca assim com a democracia. Se esse absurdo acontecer,
vamos ter greves gerais e manifestações. O Brasil vai parar. Não é
terrorismo. É desobediência civil", afirmou Damous.
4. Regulamento debaixo do braço
Com jogadores a menos e o tempo correndo contra o relógio, o governo
também faz suas contas. Há duas formas de ver a matemática do
impeachment. Uma é a de que o governo precisa de 172 votos contrários ao
impeachment para barrar o processo. Analisando por essa perspectiva e
considerando a fragmentação da base do governo, angariar todos esses
votos pode ser difícil.
A outra forma de ver a questão é: para
que o impeachment avance, são necessários 342 votos favoráveis à
instauração do processo. É na necessidade de a oposição conseguir dois
terços dos votos da Câmara que o governo aposta.
"Não somos nós
que precisamos de 172. São eles que precisam de 342. É muito difícil
você conseguir tantos votos. Não é tão simples como se imagina. A gente
vence essa parada até se tivermos só 50 votos. Vai depender de quantos
eles conseguirem", afirma o deputado Wadih Damous. "Todas essas contas
estão sendo feitas. É estratégia de guerra", diz o parlamentar.
"Às vezes tem gente que, por um motivo ou outro não vem. Uns não
conseguem embarcar a tempo, outros ficam doentes. Todos esses fatores
podem nos ajudar", afirma o deputado Adelmo Leão.
5. Opinião pública
A quinta estratégia do governo é alterar a percepção do público em
relação ao processo de impeachment que tramita contra a presidente
Dilma. A ideia é deixar claro que ela não é acusada de atos de
corrupção, mas pelas chamadas "pedaladas fiscais" e, assim, tentar tirar
o apoio popular à saída da presidente. No último dia 19, uma pesquisa do Datafolha indicou que 68% dos brasileiros são a favor do impeachment.
"O que a gente está fazendo é tentando mostrar que o impeachment não
tem nenhum fundamento jurídico e que ela não é alvo de um processo por
corrupção. A maior parte das pessoas não sabe disso e está apoiando uma
coisa com base em informações que não são verdadeiras. Impeachment sem
crime é golpe", afirmou o deputado Paulo Teixeira.
Wadih Damous
aposta que essa estratégia poderá mobilizar movimentos sociais em
manifestações de apoio a Dilma. "Temos que desmistificar a ideia de que a
presidente Dilma é acusada de corrupção. Não tem nada a ver com isso.
Quando isso ficar claro, o apoio a esse golpe vai diminuir", disse o
petista.
Durante um evento com juristas, a própria presidente Dilma já havia dado início a essa estratégia.
"Na ausência de crime claramente comprovado, o afastamento torna-se,
ele próprio, um crime contra a democracia", disse Dilma na ocasião.
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