Durante
décadas a defesa agropecuária brasileira se limitou a explorar um
modelo de interação entre o Ministério da Agricultura e as agências
estaduais de defesa agropecuária através do qual cada Estado criava sua
agência e corria com o chapéu para o governo federal que, através de
convênios, repassava aos Estados a verba para a estruturação e
manutenção das atividades de defesa agropecuária.
Desde
1934, o MAPA realiza ações contra a Febre Aftosa e o atual modelo de
Programa Nacional de combate à enfermidade iniciou em 1992. No entanto,
nunca chegou a ser um exemplo de eficiência, sendo muito interessante
para os que se aninhavam na pouco eficiente estrutura criada Brasil
afora.
Bilhões
foram repassados, mas a qualidade da defesa agropecuária brasileira não
progrediu na mesma proporção, sobretudo pela interferência política que
sempre podou o trabalho dos fiscais agropecuários brasileiros,
principalmente no nível estadual e municipal.
Atualmente
esse modelo está claramente em colapso. As torneiras do dinheiro
Federal estão secando e é insustentável manter, eternamente, um sistema
baseado em convênios onde o dinheiro é repassado, mas as estruturas de
Estados e Municípios são tímidas e amarradas a fatores políticos locais.
Esta
incapacidade do Poder Público em tornar a fiscalização agropecuária
eficiente tem se refletido no status sanitário de nossos Estados, pois
após mais de 20 anos do Programa, apenas Santa Catarina possui o status
de ‘livre de aftosa sem vacinação’. E grande parte das regiões Norte e
Nordeste nunca alcança a condição sanitária de ‘livre de Febre aftosa’.
Isso sem falar de outras enfermidades - até mais graves, por se tratarem
de zoonoses, tais como a Brucelose e a Tuberculose, para ficar somente
naquelas que possuem programas específicos de controle e erradicação.
A
fragilidade do sistema têm motivado punições ao Brasil no mercado
internacional. Várias vezes a carne brasileira foi vetada em países em
que há preocupação com a qualidade do alimento vendido à população. Com
isso, podemos passar de colosso exportador a pária do mercado
internacional de carne e outros produtos agropecuários.
É
preciso reformar o modelo de fiscalização agropecuária no Brasil. O
sistema não pode simplesmente realizar a fiscalização de forma eficiente
quando opera com número de profissionais insuficientes e não amplia
esse número porque não tem como sustentar o crescimento gerado pelas
contratações de fiscais via Concurso Público. Isso faz com que sempre
haja menos fiscais que o necessário para um trabalho eficiente.
Defendemos
um novo modelo de efetivamente agregue os Médicos Veterinários da
inciativa privada ao Sistema de Defesa Agropecuária, um sistema no qual o
poder público estabeleça um fundo para Defesa Agropecuária através do
qual o Veterinário, credenciando pelos órgãos de fiscalização
profissional, seja remunerado ao atuar em ações de defesa agropecuária.
Somente
dessa forma será possível, agregar aos Sistemas de Defesa a eficiência
do setor privado sem ampliar o custo para o erário de forma
insustentável. O profissional credenciado poderia atender
satisfatoriamente a uma demanda oscilante sem engessar o orçamento
público.
A
parceria entre o setor público e o privado é o modelo que pode
dinamizar as atividades que o Brasil precisa, caso contrário, perderemos
o trem da história na defesa de modelos que perpetuam privilégios em
detrimento do desenvolvimento de uma nação.
Paulo Alex Carneiro é Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Amazonas (CRMV/AM)
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