A
atriz e produtora de teatro Ana Rios (E) e a amiga Bruna Oliveira posam
na praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, local onde
acontecerá 'Toplessaço', criado por elas (Foto: José Pedro
Monteiro/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)
A ideia surgiu durante a Marcha das Vadias, realizada no Rio no dia 27
de julho. A atriz e produtora de teatro Ana Rios e a amiga Bruna
Oliveira estavam juntas no evento – que reivindicava a igualdade de
direitos para homens e mulheres e protestava contra o deputado Marco
Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
–, quando perceberam olhares de repreensão de quem passava pelo
entorno.
Durante a marcha, elas usavam sutiãs e outras integrantes faziam topless. Incomodadas com a repressão, decidiram criar um "Toplessaço",
marcado para o dia 21 de dezembro, na Praia de Ipanema, Zona Sul da
cidade. "É um absurdo que no Rio o topless tenha virado caso de polícia.
Me incomoda o fato de um policial perder o tempo dele indo pedir para
alguém colocar biquíni", reclamou Ana.
"Durante a marcha, percebi que a existência do topless era muito
agressiva. Ouvi várias pessoas falando coisas horríveis. Comentei com a
Bruna como achava louco as pessoas terem uma reação tão violenta com o
corpo feminino. Há uma aceitação em um contexto de compra e venda, mas
não no contexto natural. Até em revistas de amamentação, é muito raro
ver mulheres com os peitos de fora", disse a organizadora do evento ao G1.
Na época, por causa do inverno, Ana e Bruna combinaram que fariam o
evento no primeiro sábado de verão. A ideia foi reforçada após a
publicação de uma matéria no jornal "O Globo", no dia 2 de dezembro, que
citava um episódio ocorrido na Praia do Arpoador, em 14 de novembro. Na
ocasião, os atores Cristina Flores e Álamo Facó posavam para a campanha
de divulgação da peça "Cosmocartas". Segundo a reportagem, Cristina
tirou a blusa e foi repreendida por policiais militares.
"Vi a matéria do 'Globo' e pensei: 'Caramba, mais uma vez'. O fato mais
importante é a naturalização do corpo. Por que temos que lidar com o
corpo como consumo ou como vergonha? Mas o mais importante de tudo é
isso ser caso de polícia. Todo mundo mamou no peito, e isso [topless]
não pode ser assunto de polícia", destacou Ana.
Ana Rios na Marcha das Vadias no Rio
(Foto: Reprodução/ Facebook) Protesto coletivo
(Foto: Reprodução/ Facebook) Protesto coletivo
As organizadoras não querem usar megafones para pedir que as pessoas
tirem a parte de cima do biquíni. Eles propõem um ato descentralizado.
"É uma coisa de micropolítica. No primeiro dia, as pessoas vão achar
estranho, mas a ideia é ir naturalizando. Prefiro que seja uma decisão
de cada um. Mas já vi que tem uma galera se organizando. Tem gente
preocupada com a reação da polícia. Talvez mais perto, a gente acabe
marcando um ponto de encontro. Mas a ideia é que seja um ato individual.
Um ato coletivo, mas individualmente realizado", pontuou Ana.
Para ela, o moralismo e o machismo são os responsáveis pelo espanto que
o topless ainda causa nos brasileiros. "A mulher é vista como
propriedade ou objeto a ser desejado. A gente tem muita dificuldade de
ser só pessoa. Acaba que os hábitos são todos só baseados nisso. [O
topless] é uma coisa que já se estabeleceu no mundo. A gente não
conseguiu isso no Brasil. A gente tem o culto ao corpo, mas não tem uma
aceitação dos corpos como eles são".
O evento foi criado no Facebook na segunda-feira (2) à noite. Na tarde
de quarta-feira (4), mais de 10 mil pessoas já haviam sido convidadas,
com mais de 1.500 confirmações de presença. De acordo com Ana, homens
também devem participar com a parte de cima de biquíni para mostrar
solidariedade ao movimento.
Topless coletivo acontecerá no dia 21 abertura do Verão no Rio (Foto: José Pedro Monteiro/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)
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