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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Justiça absolve seguranças acusados de coautoria na morte de PC Farias e Suzana Marcolino

Mesmo assim, jurados acreditam que houve duplo homicídio

Do R7
Acusação sustentava que os quatro (foto) teriam facilitado a entrada do assassino na casa Itawi Albuquerque/Futura Press/Estadão Conteúdo
Após cinco dias de julgamento, os quatro policiais militares que faziam a segurança do empresário PC Farias foram absolvidos pela Justiça pouco depois das 21h desta sexta-feira (10). Eles eram acusados de coautoria no assassinato de PC e da namorada dele, Suzana Marcolino, há 17 anos, na praia de Guaxuma. A maioria dos jurados entendeu que houve, sim, um duplo homicídio, mas que os réus não tiveram culpa no que aconteceu.
O juiz ainda pediu que sejam remetidas cópias dos autos ao Ministério Público para que seja investigada o suposto valor de R$ 100 mil oferecido pelo irmão de PC Farias, Augusto César Farias, para que indiciasse somente os quatro policiais pelo crime.
Na quinta-feira (9), os quatro réus foram interrogados. Adeildo Costa dos Santos, José Geraldo da Silva, Josemar Faustino dos Santos e Reinaldo Correia de Lima Filho falaram sobre a noite em que o crime aconteceu, sobre a manhã em que os corpos foram encontrados no quarto, sobre a rotina da casa e contaram também o que sabiam sobre o casal. José Geraldo disse ter ouvido uma discussão entre PC e Suzana naquela noite.
O juiz perguntou a cada um deles se sabiam quem teria cometido o crime. Todos disseram que não. Em seguida, também afirmaram ter certeza de que Suzana suicidou-se após matar o namorado.
Perícias
Os peritos Domingo Torcheto e Daniel Muñoz, que fizeram um segundo laudo sobre a morte, a pedido da Justiça, também foram ouvidos na quinta-feira. Torcheto afirmou que houve um duplo homicídio e que não foram encontrados resíduos de pólvora e nem de sangue nas mãos de Suzana.
— Esses são os esclarecimentos que julgo importante para o esclarecimento do crime. Pelos testes realizados, não foram identificados nas mãos de Suzana partículas de sangue e chumbo em suas mãos. Não houve suicídio.
O laudo elaborado por eles é contraditório ao primeiro, assinado pelo legista Fortunato Badan Palhares, que sustenta a tese de homicídio seguido de suicídio.
A equipe de Badan Palhares foi ouvida na quarta-feira (8). Por aproximadamente quatro horas, o legista mostrou imagens da perícia e fez análises. Indagado pelo juiz Maurício Brêta, Badan Palhares afirmou não ter dúvidas do laudo que produziu.
— Como perito, o local do crime define por si só que aquilo é um homicídio seguido de suicídio. Pelos anos de vida que tenho, dedicados a isso, eu tenho certeza absoluta de que ali houve um homicídio seguido de suicídio.
Os peritos Nivaldo Gomes Cantuária — que produziu o primeiro laudo técnico apontando homicídio seguido de suicídio —, Gérson Odilon, José Lopes e Anita Buarque de Gusmão — primeira a chegar ao local, faziam parte da equipe de Badan Palhares e também prestaram esclarecimentos.
Delegados
Os delegados Alcides Andrade e Antonio Carlos Lessa, convocados para esclarecer uma informação do depoimento de Augusto Farias na terça-feira (7), foram ouvidos nesta manhã. Augusto Farias disse em plenário que recebeu proposta dos dois delegados — que presidiram o inquérito na época do crime — para entregar os policiais como culpados.
Andrade e Lessa negaram que isso tenha ocorrido e disseram, ainda, que a proposta de negociação foi de Augusto. Segundo Lessa, um jornalista intermediou a conversa e ofereceu R$ 100 mil para que apenas os policiais fossem acusados do duplo homicídio — livrando Augusto de qualquer suspeita do crime.
Os delegados garantiram que não houve negociação e que os dois se encontraram com Augusto apenas durante o depoimento dele.
Testemunhas
Foram ouvidas 27 testemunhas durante o júri. Uma das mais importantes foi o irmão de PC Farias, o atual deputado federal Augusto Farias. Ele chegou a ser indiciado como suspeito de ser o mandante do crime, mas, por falta de provas, acabou não sendo acusado pelo duplo homicídio.
O irmão de PC também afirmou durante o depoimento que o indiciamento ocorreu por pressão da imprensa e rebateu que tivesse inveja do irmão, como apontou Milane Valente, sua ex-namorada, que também foi ouvida.
A irmã de Suzana Marcolino, Anna Luiza Marcolino disse, na quinta-feira, não acreditar na possibilidade de suicídio.
— Minha irmã não mereceria ser assassinada como ela foi, porque ela jamais se mataria.
Claudia Dantas, apontado como o pivô, de uma briga entre PC e Suzana, foi ouvida na terça-feira (7). Ela afirmou que o empresário terminaria com a namorada para ficar com ela, e que teria dito isso por telefone, um dia antes do crime. Ela também falou acreditar que Suzana foi responsável pelo que aconteceu.
O caso
PC Farias e Suzana Marcolino foram encontrados mortos na manhã do dia 23 de junho de 1996, na casa de praia do empresário, localizada no bairro de Guaxuma, litoral norte de Maceió. As circunstâncias do crime até hoje deixam dúvidas. Para a polícia alagoana, Suzana matou o namorado e depois cometeu suicídio. Essa é a mesma tese do advogado José Fragoso, responsável pela defesa dos quatro policiais levados a júri popular. A acusação sustenta que os quatro seguranças têm responsabilidade como coautores, já que estavam na cena do crime e teriam facilitado ou sido omissos em relação à entrada do assassino na casa. A jornalista Ana Luíza Marcolino, irmã de Suzana, rebateu a tese de crime passional e falou em uma "força" para que o caso não seja esclarecido.
Collor
Paulo César Farias foi o tesoureiro de campanha do então candidato Fernando Collor à Presidência da República. Em novembro de 1993, PC Farias — que teve a prisão preventiva decretada por crime de sonegação fiscal — foi preso na Tailândia, para onde fugira, e transferido para o Brasil. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal a sete anos de prisão, o empresário acabaria cumprindo parte da pena no quartel do Corpo de Bombeiros de Maceió até ganhar a liberdade condicional. O duplo assassinato aconteceu seis meses após o empresário sair da prisão.

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