No
capítulo desta quarta (23), Laerte (Gabriel Braga Nunes) faz visita
surpresa a Luiza (Bruna Marquezine): mimados e arrogantes, eles foram
feitos um para o outro (Divulgação)
O sucesso, já foi dito um milhão de vezes, é algo imponderável. Mas
no mundo das novelas – pode-se considerar que infelizmente – há uma meia
dúzia de itens que, usados com certa habilidade, são capazes de atrair
audiência.Três ingredientes são óbvios e, não por acaso, estão sempre
presentes nas novelas de Walcyr Carrasco, autor que coleciona pontos no
Ibope: barraco, bordão e humor popularesco. No caso da novela das nove, o
horário permite ainda que se recorra a um tanto de sexo e nudez
calculada, o suficiente para instigar os instigáveis sem afugentar os
mais pudicos. Um vilão para o público amar odiar também ajuda – e muito,
basta lembrar dos saudosos Félix (Mateus Solano) e Carminha (Adriana
Esteves). Heróis para torcer são uma espécie de sonho de consumo dos
autores, mas difíceis de construir, já que nem sempre os bons conseguem a
simpatia da plateia – como conseguiu o Tufão (Murilo Benício) de Avenida Brasil (2012).
Nesse contexto, o noveleiro atento pode se questionar: “Mas e a história?”
Pois é. A história, que deveria ser a espinha dorsal de uma novela,
parece ter ficado em segundo plano. Ou, numa visão mais otimista,
tornou-se algo que corre como pano de fundo ao mesmo tempo em que se
tenta acordar a audiência com cenas de efeito, em geral, com personagens
rolando no chão – brigando ou fazendo sexo.
Por essas e outras, Em Família (Globo,
21h15) não tem conseguido deslanchar. Manoel Carlos se propôs contar uma
história que é, sim, boa, mas simples, cotidiana. Veja os sete “erros”
que podem ter afastado o público da novela – entre aspas porque a baixa
audiência não significa que a novela é ruim, apenas que não tem as iscas
que ajudaram a fisgar o público nas últimas produções da emissora::
1. A mimada e o arrogante
Sem amores idealizados, a novela se concentra no romance entre a
jovem Luiza (Bruna Marquezine) e o quarentão Laerte (Gabriel Braga
Nunes). É, de fato, um namoro que poderia acontecer na vida real. Mas
uma é mimada e o outro, arrogante. Os dois são mentirosos. É, portanto,
um casal fadado à rejeição. O problema é que sem o envolvimento dos
dois personagens, a novela não acontece – o que pôs o autor numa
armadilha.
2. Clarina
A trama de Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) é
forte. A história de uma dona de casa capaz de abandonar marido e filho
pequeno por causa de outra mulher é, sem dúvida, capaz de criar
polêmica. Mas do jeito que foi apresentado, o romance ficou no campo da
atração, do encantamento. Clara é homossexual ou está apenas encantada
pela vida charmosa da nova amiga? É o que os telespectadores não estão
tendo paciência de esperar para descobrir. Fora isso, Clara tem contra
si a figura doce de Reynaldo Gianecchini, que vive o marido Cadu, à
beira de um transplante de coração. Como abrir mão dele por uma pessoa
que, já foi dito em cena, tem fama de volúvel? O coração é traiçoeiro, é
verdade. Mas em vez de torcer pelo amor e redenção, como foi no caso de
Félix e Niko Carneirinho (Thiago Fragoso) em Amor à Vida, não será surpresa se o público optar pela manutenção da família.
3. Estupro
É louvável que a novela tenha personagens bastante reais, que reajam
como seres humanos reagiriam – ou seja, errando. Mesmo assim, fica
difícil assistir, por exemplo, a Alice (Erika Januza) seguir na busca
pelo pai desconhecido, mesmo após descobrir que estuprou sua mãe. Faltou
à moça, aliás, a sensibilidade de um afago na pobre Neidinha (Elina de
Souza), massacrada durante 20 anos pela violência que sofreu.
4. Minha mãe é uma sereia
O descompasso entre as idades de algumas atrizes e suas personagens
gerou uma certa má vontade com a novela logo de cara. Os envolvidos na
produção pensaram que a sensação de que algo está errado seria diluída
com o tempo e as boas interpretações, mas que nada. Ainda que o público
deixe de lado o absurdo que é Natália do Vale (Chica) ser mãe de Júlia
Lemmertz (Helena), continua sendo muito estranho imaginar que Ana
Beatriz Nogueira, a Selma, está perdendo a memória e pode parar num
asilo.
5. Fala sério, vó!
Há humor na novela, mas não capaz de provocar risadas na maior parte
da plateia. O núcleo do asilo é engraçado e poético, apesar do exagero
no temperamento arrogante de Miss Lauren (Betty Gofman). Mas talvez seja
preciso ter algumas décadas de estrada para achar graça em piadas que
envolvem reumatismo e paquera na terceira idade.
6. Loira – só um pouco – má
Ainda que não se queira recorrer ao velho maniqueísmo, a novela
precisa de uma figura, digamos, de energia ruim, capaz de movimentar a
trama. Shriley (Vivianne Pasmanter) é ótima personagem, mas não serve
como vilã – solar, divertida e mais sincera do que os mocinhos, até
caridade ela faz! E Branca (Ângela Vieira) não merece um posto de
vilania – é apenas a “ex desesperada digna de pena”, chata demais.
7. Oi, oi, oi
As novelas de Manoel Carlos são famosas pela trilha sonora de bom
gosto. Mas nos primeiros meses – situação que vem sendo corrigida nos
últimos capítulos – só se ouvia com destaque a faixa Só Vejo Você, na voz de Tânia Mara. Música, como o insuportável mas funcional “Oi, Oi, Oi” de Avenida Brasil demonstrou, é essencial para fazer uma novela “colar” no cotidiano dos telespectadores.
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