Um pedido de impeachment da governadora do
Maranhão Roseana Sarney será protocolado, nesta terça (14), pelo
Coletivo de Advogados em Direitos Humanos, na Assembleia Legislativa do
Estado. De acordo com Eloísa Machado, advogada do coletivo, a
governadora praticou crime de responsabilidade ao não impedir a
violência no complexo penitenciário de Pedrinhas.
“As graves
violações de direitos humanos que ocorreram em Pedrinhas não são um
acidente, um acontecimento imprevisível. Os episódios de grave violência
já haviam sido constatados, em 2011, pelo Conselho Nacional de Justiça,
que avisou a governadora que as coisas precisavam mudar com urgência”,
afirma Eloísa, que também é professora do curso de direito da
FGV-SP. ”Nestes casos, falta de vontade política é crime de
responsabilidade. A governadora deve ser responsabilizada politicamente
pela sua inabilidade em impedir, prevenir e reparar essas violações de
direitos humanos.”
Punição por crimes de responsabilidade são mais
comuns em casos de corrupção e malversação de recursos públicos. De
acordo com a advogada, a ideia de promover a responsabilidade política
dos governantes por violações de direitos humanos é ainda pouco
explorada. “Nossos governantes não são intocáveis. Acredito que a
Assembleia Legislativa do Maranhão estará atenta aos reclamos da
sociedade maranhense e do Brasil como um todo. Afinal, este é o seu
papel.”
O Coletivo de Advogados em Direitos Humanos (Cadhu) é uma
articulação composta por advogados e profissionais que procuram promover
os direitos humanos em ações estratégicas de grande impacto. Toda a sua
atuação é feita de forma pro bono. Criado em 2013, congrega advogados experientes na defesa de direitos humanos e conta, hoje, com mais de 20 colaboradores.
O
coletivo pede que a Presidência da Assembleia determine, no prazo de 15
dias, a criação de uma comissão especial, com observância da
proporcionalidade partidária, com a finalidade de emitir parecer sobre a
representação, a procedência da denúncia pelo crime de responsabilidade
e a suspensão de Roseana Sarney do cargo de governadora. E, por fim,
seu impeachment.
Segue entrevista feita por este blog com Eloísa Machado sobre o pedido de impeachment:
Qual a justificativa para o pedido de impeachment da governadora Roseana Sarney?
O
pedido de impeachment sustenta que a governadora praticou um crime de
responsabilidade ao não impedir essa onda de violência em Pedrinhas. A
lei 1.079/50 e a própria Constituição do Estado do Maranhão apontam que
os Governadores cometem crime de responsabilidade se permitem graves
violações aos direitos individuais e se deixam de responsabilizar seus
subalternos. É exatamente isso que está acontecendo no Maranhão: graves
violações a direitos humanos e nenhuma responsabilidade.
De
acordo com o pedido de impeachment, a governadora Roseana Sarney tinha
conhecimento do que acontece no sistema prisional maranhense, pelo menos
desde o início do seu mandato. Pode-se afirmar que, do ponto de vista
legal, ela foi conivente com as dezenas de mortes que ocorreram por lá?
As
graves violações de direitos humanos que ocorreram em Pedrinhas não são
um acidente, um acontecimento imprevisível. Os episódios de grave
violência já haviam sido constatados em 2011 pelo CNJ, que avisou a
governadora que as coisas precisavam mudar com urgência. Mas, mesmo
assim, nada foi feito, nem mesmo quando começaram as mortes em janeiro
de 2013, há um ano atrás, até chegarmos ao inaceitável número de 62
mortos. Nestes casos, falta de vontade política é crime de
responsabilidade. A governadora deve ser responsabilizada politicamente
pela sua inabilidade em impedir, prevenir e reparar essas violações de
direitos humanos.
As violações aos direitos humanos em Pedrinhas fogem ao que acontece no sistema prisional do restante do país?
O
sistema prisional brasileiro padece de muitos problemas. Há mortes, há
tortura, há superlotação. Mas o caso de Pedrinhas é claramente um ponto
fora da curva, é mais grave e mais violento. A mortalidade no sistema
maranhense é maior. A ONU se manifestou, a Comissão Interamericana
concedeu medidas cautelares. Não podemos banalizar uma violência desta
natureza, decapitações, desmembramentos, não são episódios corriqueiros.
Punição
por crimes de responsabilidade são mais comuns em casos de corrupção e
malversação de recursos públicos. O Brasil e, mais especialmente, o
Maranhão está preparado para analisar um pedido com base em violação aos
direitos humanos?
Não tenho conhecimento de outro pedido
de impeachment em razão de violações de direitos humanos. Mesmo havendo
previsão legal para que isso ocorra, a ideia de promover a
responsabilidade politica dos nossos governantes por violações de
direitos humanos é ainda pouco explorada. O mesmo ocorre com a
intervenção federal e com os pedidos de federalização. Há a previsão,
mas seu uso e aplicação são raríssimos. Nossos governantes não são
intocáveis. Os recursos e salvaguardas para os direitos humanos precisam
ser usados e a responsabilidade precisa ser definida. Acredito que a
Assembleia Legislativa do Maranhão estará atenta aos reclamos da
sociedade maranhense e do Brasil como um todo. Afinal, este é o seu
papel.
A família Sarney tem bases fortes na Assembleia
Legislativa e no sistema de Justiça no Maranhão. Contudo, nos últimos
dias, a governadora brigou com o Judiciário e com o Conselho Nacional de
Justiça. Há clima político para um impeachment? Ele fortalece a
proposta de intervenção federal no Estado?
Acredito que há
clima político para impeachment. A ONU fez um pronunciamento duríssimo. A
Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou a violência e
demandou providências urgentes. Por aqui, a Procuradoria Geral da
República já anunciou que vai solicitar a intervenção federal. O CNJ e o
Tribunal de Justiça também foram muito duros na condenação da violência
e Pedrinhas.
Também acredito que a Assembleia Legislativa do
Maranhão tem condições de dar andamento a este processo. A
responsabilidade por graves violações de direitos humanos, como estas,
tem que transcender alianças partidárias.
No entanto, é claro que
ao abrir uma possibilidade mais extrema de responsabilização, como o
impeachment, as demais alternativas menos gravosas, como a intervenção
federal, podem ganhar força. Esperamos, com este pedido, somar esforços
para que as graves violações de direitos humanos ocorridas em Pedrinhas
sejam reparadas e que não mais voltem a se repetir.
blogdosakamoto
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