A família do borracheiro Elson de Jesus Pereira, de 43 anos – o primeiro preso a ser decapitado no Complexo Penitenciário de Pedrinhas durante a crise que se instalou no sistema prisional maranhense – aguarda o resultado de uma ação por danos morais, movida contra o Estado. A viúva do borracheiro, Tereza de Jesus Furtado, de 44 anos, informou que o advogado contratado pela família, Raimundo da Silva Santos, deu entrada na ação na 4ª Vara da Fazenda Pública de São Luís, no dia 18 de novembro.

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Velório do borracheiro foi em seu local de trabalho. (Foto: G. Ferreira)

Condenado pela Justiça a seis anos de prisão, Elson estava preso em Pedrinhas a menos de duas semanas quando foi assassinado. Seu crime: receptação de quatro pneus, fato ocorrido em 2009.

O borracheiro foi decapitado durante uma rebelião, ocorrida na Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ) de Pedrinhas, no dia 1º de outubro de 2013, data que marcou o início dos motins e brigas entre facções dentro do presídio – violência que extrapolaria para as ruas de São Luís, com ataques a ônibus e delegacias.

De acordo com Tereza de Jesus, o marido – dono de um comércio de sucatas e borracharia, no bairro do Sacavém (periferia de São Luís) – havia sido preso no dia 19 de setembro, em cumprimento a um mandado de prisão pela compra dos pneus, que a polícia diz terem sido roubados.

Levado para Pedrinhas e colocado na área da CCPJ destinada a criminosos perigosos da facção Bonde dos 40, Elson virou alvo após a revolta do grupo rival, Primeiro Comando do Maranhão (PCM), com a presença na unidade de outros 18 detentos ligados ao “Bonde” vindos da CCPJ do Anil (unidade que não faz parte do Complexo de Pedrinhas). 

A transferência foi determinada pelo juiz Roberto de Paula, da 1ª Vara de Execução Penal.

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Tereza de Jesus, viúva de Elson: ‘O Estado tem de reconhecer que errou’. (Foto: Francisco Silva)

No dia seguinte à chegada dos transferidos, perto de 40 presos do PCM invadiram a ala em que estavam alojados os “alemão” (que é como as facções chamam os inimigos) e mataram três detentos. Confundido com um integrante do Bonde dos 40, Elson Pereira foi morto, decapitado e teve sua cabeça lançada para longe do corpo.

“Meu marido foi condenado à morte no momento em que foi levado para Pedrinhas. O Elson sempre foi trabalhador e muito direito. Ele vivia em função da família e dos nossos três filhos [Wellison, 18 anos; Marcelo, 15; e Vitória, 13]. Ele nunca foi receptador ou bandido, nunca teve ficha na polícia, e mesmo a gente mostrando isso o Estado não quis saber e o colocou junto com bandidos perigosos que o mataram de forma brutal. Meu marido não cometeu nenhum crime hediondo para estar naquele lugar”, afirmou Teresa de Jesus ao Jornal Pequeno, nesta semana .

“Ele deveria ter sido conduzido para um setor condizente com a sua pena e o seu crime, mas foi levado para um presídio perigoso e jogado numa cela junto com traficantes, homicidas, assaltantes e tudo mais que se possa imaginar”, disse a viúva.

Segundo Teresa de Jesus, com a morte de Elson, o comércio de sucata – que leva o nome da filha mais nova do casal, Vitória, que tem mobilidade reduzida – ficou fechado por quase três meses. Só foi reaberto recentemente, por conta das dificuldades financeiras que se agravaram.

“Estou vendendo a mercadoria que já tínhamos aqui, mas é pouco. No fim do mês não apuramos nem um salário mínimo”, disse Teresa.

Apesar das dificuldades, a viúva de Elson Pereira acredita em ao menos poder ver tornar-se realidade o sonho do marido morto, de ver os filhos bem encaminhados na vida.

“O sonho do Elson era ver o filho mais velho, o Wellison, ingressando na carreira militar; o do meio, Marcelo, se formando em direito; e a caçula, Vitória, atuando na área médica, apesar de ela ter nascido prematura e acumulado problemas de saúde. Infelizmente, esse sonho de formar os filhos o Elson não vai poder realizar, mas eu vou lutar para realizá-lo, assim como não vou desistir de pedir justiça. Sei que isso não trará o Elson de volta, mas quero que o Estado reconheça que errou”, declarou Teresa de Jesus.

OUTRO LADO – Questionado sobre o assunto, o secretário de Comunicação do governo do Maranhão, Sérgio Macêdo, informou que o Estado ainda não foi notificado pela Justiça sobre a ação por danos morais movida pela família do borracheiro Elson Pereira. “Não fomos notificados ainda. Assim que houver essa notificação, vamos nos manifestar à imprensa e à sociedade”, disse Macêdo.