Setor até então próximo à família Sarney endureceu as críticas à governadora; nos bastidores, clã age para derrubar diretor do Conselho Nacional de Justiça
Temendo uma eventual intervenção federal no Maranhão
em função da crise no sistema prisional, a governadora Roseana Sarney
(PMDB) tensionou a relação entre a administração estadual e o Poder
Judiciário, setor historicamente próximo ao clã Sarney no Estado. Desde o
final de dezembro, a governadora tem atribuído as 62 mortes ocorridas
no Complexo Penitenciário de Pedrinhas desde o ano passado à morosidade
da Justiça.
Ônibus incendiado por criminosos nesta sexta-feira, em São Luís
Em uma outra frente, fontes do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) acusam a família Sarney de fazer lobby pela exoneração
do juiz Douglas Martins, diretor do CNJ, responsável pelo relatório de inspeção realizado em Pedrinhas no final do ano passado.
O relatório afirma que em Pedrinhas foram detectadas, além das brigas
de facções rivais, o estupro de esposas de detentos e até casos de
decapitação de presos.
A interlocutores, Roseana tem dito que está
sendo alvo de uma perseguição de juízes supostamente próximos ao
presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Flávio Dino, que
também foi magistrado. Dino é o principal adversário do clã Sarney na
disputa pelo governo do Estado neste ano. Nos bastidores, Roseana
classifica como “ação política”, a inspeção do juiz Douglas Martins.
Além
disso, o governo estadual vem reiterando por meio de seus
interlocutores que vários dos ataques ocorridos em São Luís foram
planejados ou executados por ex-condenados ou por acusados de crimes
como furto qualificado ou formação de quadrilha, que ainda esperam
julgamento da Justiça.
No
último fim de semana, em entrevista ao jornal O Estado do Maranhão,
veículo de comunicação da família, Roseana afirmou que o Estado tem 2,7
mil presos e “mais da metade deles não foi julgada pela Justiça”. “A
Justiça é lenta. Também temos esse problema”, disse Roseana.
A
presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA), a desembargadora
Cleonice Freire, lançou, na noite desta segunda-feira, uma nota de
repúdio às declarações da governadora afirmando que “as causas mais
determinantes para o agravamento da questão carcerária decorrem de fatos
independentes do Poder Judiciário”. “A responsabilidade na solução dos
problemas carcerários, com relação à estruturação física destinada aos
detentos, não compete ao Poder Judiciário”, disse a desembargadora.
Também
desde a semana passada, membros ligados à família Sarney intensificaram
as críticas contra o juiz Douglas Martins tentando desacreditar o
relatório entregue por ele ao presidente do CNJ. Além de um texto
retratando os atos de desrespeito aos direitos humanos, o magistrado
também entregou vários vídeos supostamente gravados em Pedrinhas.
Um dos vídeos apresentados é de uma pessoa que
teria tido sua perna supostamente dilacerada dentro de Pedrinhas. O
vídeo foi encaminhado pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários do
Maranhão (Sindspen-MA) e o registro, incluído no relatório. A Polícia do
Maranhão investigou o vídeo e afirma que ele não passa de uma imagem de
um acidente ocorrido nos Estados Unidos. Nos bastidores, o governo quer
que o juiz seja demitido do cargo por ter incluído esse vídeo no
relatório. Uma fonte do CNJ afirma que essa tentativa de punição é
apenas uma retaliação por conta das denúncias. Apesar disso, fontes do
CNJ não acreditam que essa ofensiva do clã contar Martins dê algum
resultado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário